AS 03 GRANDES ONDAS

Eu li em algum lugar que as coisas acontecem em "ondas". Nunca sozinhas, apenas de uma vez. É como se precisássemos ser preparados para as boas ou más notícias.

Eu nao fui diferente, tive as tais "ondas" de início da convivência com essa doença. Vamos lá:

Primeira onda:

"Você tem uma massa de 9x7 cm no pulmão direito".

Nunca fui muito boa em matemática e muito menos em cálculo de espaços. Então ao ouvir o pneumologista me dizer que eu tinha um tumor de 9x7 cm, apesar da preocupação inicial imaginei uma coisinha do tamanho de uma moeda de um real. Mas quando cheguei em casa e conferi em uma régua, descobri que tinha uma laranja; praticamente, alojada em meu pulmão direito. Esse foi meu primeiro grande choque. Lembro de ficar olhando a régua e conferindo várias vezes o que seria esses 9X7 centímetros, na esperança de, em alguma das tentativas, diminuir.

Segunda onda:

"Previsão de 06 meses de vida".
Acho que no mesmo dia: coloquei "câncer de pulmão" no site de busca. Triste ideia, o primeiro link da lista já dizia que o câncer de pulmão era o mais letal, e a expectativa de vida, entre 06 a 08 meses. Fechei o navegador como se tivesse visto algum fantasma. Depois desse dia, nos últimos 02 anos tenho evitado procurar respostas e prognósticos em sítios, palpites, redes sociais ou qualquer um que não tenha um currículo bem melhor do que a minha oncologista. No máximo, atualmente em relação a minha doença procuro o significado de uma palavra ou bula de um remédio. Com reservas.

Terceira onda: "metástase".
Finalmente o último grande e talvez maior choque já aconteceu em São Paulo, quando voltando na consulta com o médico cirurgião que poderia vir a me operar para retirar o tumor, fui muito delicadamente informada que fora encontrado metástase no meu exame de petscan e ressonância magnética, ou seja, o câncer não estava em um só lugar mais, já havia também aparecido em outro local do corpo, e por isso não resolveria fazer uma cirurgia naquele momento. Na verdade, naquele momento cirurgia foi totalmente descartada. Como me foi explicado então, seria como usar um cobertor pequeno, que não cobriria o corpo todo, "cobre a cabeça, aparece os pés, cobre os pés, aparece a cabeça". E além disso a cirurgia além de não resolver poderia reduzir minha imunidade, e trazer mais problemas além dos que estavam me sendo "apresentados".

E foi assim que eu; que nunca tivera nem curiosidade a respeito do câncer; iniciava um curso intensivo de como viver, lidar e tratar essa doença. E como já disse antes, esses tópicos não são para dar segredos sobre alimentação ou contar um milagre de cura nem para falar sobre "uma luta"; ou enaltecer os dramas vividos. É para passar àqueles que como eu não fizeram nenhum curso preparatório antes de ter um diagnóstico de câncer, algumas das minhas experiências, boas e ruins, e talvez ajudar de alguma forma. Algumas vezes vou falar sobre um procedimento, ou uma dor, ou algo que aprendi.Mas vamos começar do começo