CANCER NÃO É VOLDEMORT, NEM UM ANTI HEROI DA MARVEL.

Em 2007 comecei um blog, ao iniciar minha (bem sucedida) tentativa de parar de fumar. o nome era "free do free". De fato, parei de fumar naquela época, e até esta data, nunca mais coloquei um cigarro na boca. Depois, por algum motivo, parei de escrever o blog free do free. Talvez tenha sido por me sentir de fato free do free, e tenha perdido o motivo de escrever. Nove anos depois eu não podia reclamar da sorte. Fora alguns percalços comuns a boa parte de nós, seres viventes, sempre tive uma vida boa. Infância e juventude em uma família tradicional e bem estruturada, faculdade, casamento, filhos, divórcio (um dos percalços), trabalho, netos, viagens, amores, problemas e soluções como todos os têm. Então, chegava aos 57 anos com uma boa expectativa de maturidade física, profissional e pessoal. Mas, como Allen Sauders disse em 1957 pela primeira vez em uma publicação: “Life is what happens to us while we are making other plans”. De fato, em junho de 2016, enquanto eu estava ocupada planejando minha primeira viagem a Europa, a vida me pegou pelos calcanhares e na rapidez que só se vê nos filmes da MARVEL, me virou de ponta cabeça e tudo que estava e está ligado a mim, filhos, netos, amigos, irmãos, alguns poucos parentes mais amigos que parentes, sócios. E essa virada de uma forma irônica lembra muito o VOLDEMORT de Harry Potter, pois como ele, a virada que acontece em nossas vidas, na maioria das vezes é tratada como “aquela doença”, “teu problema”; ou seja, “aquele que não se diz o nome” . E só depois de alguns dias, de fato, eu mesma consegui pronunciar a frase mais temida.... “eu tenho câncer”. Esse blog obviamente não é um diário, pois 02 anos ja se passaram do meu diagnóstico, e nesses dois anos ja se passaram tambem 03 rádio cirurgias, 01 cirurgia de aneurisma, 01 pulsão, e finalmente, mas nao menos importante, como se diz nas premiações, a cirurgia de retirada do tumor original (falarei sobre tudo isso em outras postagens). Isto sem contar vários médicos, enfermeiras e técnicas que foram e estão sendo sensacionais; tratamentos como quimioterapias (que nao foi o bicho papao que eu achava) , e imunoterapia (mais tranquilo que tomar vacina quando eu era criança). Nesses últimos 02 anos aprendi que é verdade que o apoio vem de quem não se espera, e não daqueles que achamos certo poder contar; aprendi que a vida não pára nem o mundo passa a girar ao seu redor; aprendi que tem até humor no câncer, e muitas amizades novas são feitas. Aprendi que a encarar a mortalidade que sempre deixamos escondida em um canto da vida. Não vou tentar indicar ou contra indicar tratamentos ou soluções, pois respeito muito a minha posição de leiga, e os anos e anos de estudos da minha oncologista e todos os médicos que de alguma forma já me trataram. Também não vou entrar na seara da medicina alternativa pois da mesma forma sou leiga quanto a isso. Na verdade, esse blog vai ser uma mistura de desabafo, autobiografia, tentativa de desmistificar muitos Pré conceitos sobre o câncer, colocar o câncer no lugar dele como doença, e não como definição de uma pessoa, e dar o máximo de dicas possíveis, dentro da minha própria experiência e limitações, desde de como economizar se você tiver que viajar de duas em duas semanas para se tratar até como não deixar que o câncer seja um "inimigo contra quem lutar", e se torne "aquele que não se pode dizer o nome" na vida das pessoas. Da minha experiência que pretendo passar aqui, a grande pretensão é sempre lembrar a mim mesma, e às pessoas que lerem esses textos amadores que câncer nem define a pessoa, nem é VOLDEMORT. Não se trava uma "guerra contra o câncer". Câncer é uma doença, grave, crônica, que pode matar sim, como muitas outras doenças. E como tal deve tratado, mas não deve me definir, nem a ninguém. O câncer mata sim, mas diabete também mata, lúpus também, dirigir também mata, picada de aranha também mata.... Estar vivo, enfim, mata. Então, manter a ideia de viver, e não superestimar uma doença que deve ser tratada, é para mim um dos "caminhos das pedras" que encontrei para continuar sendo eu mesma. descricao Como consigo encarar o câncer como uma doença grave, arriscada, mas não uma sentença de morte, e não deixo que ele me defina, seja um "inimigo" com quem lutar, ou algo "cujo nome não se deve falar". Desmistificando vários preconceitos e medos. E a vida continua!!! Uma pessoa que é profissional, mãe, avó,adoro rir, um pouco politicamente incorreta e que tem a doença do cancer. Não luto contra ele, nem super valorizo. Trato com cuidado, mas não o torno uma doença em supervilão da Marvel ou dos filmes do Harry Potter

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