E A FILA ANDA.





Sejamos sinceros. Quando se descobre que tem câncer, só uma coisa consola, logo no inicio. A atenção, carinho, e preocupação dos parentes e amigos.
Lindo. Nos primeiros 30 dias.
Não me entendam mal, não posso reclamar da minha família, e de alguns poucos, estes, na verdade, MUITO poucos, amigos.
A culpa é nossa. Acontece que no choque inicial todo mundo chora, todo mundo te abraça, todo mundo mantém contato... e isso cria uma expectativa que se manterá assim por muito tempo. Bom gente, a fila anda, o supermercado tem que ser feito, aniversários acontecem, casamentos começam e se acabam... Ai que mora o perigo. De repente você (ou o cancer) não é mais novidade! não te olham mais como um futuro cadáver ambulante, e vão cuidar todos, da vida! E dai? nada mais natural.

E voce tem que ver realmente isso com naturalidade, afinal, é difícil lidar com o "voltar ao normal" de todos, quando você, pessoalmente, ainda que aja normal, NUNCA volta realmente ao normal, quando sabe que tem que conviver ao longo de muito e muito tempo com uma séria doença crônica, o câncer, ou outra qualquer.

Nestes dois anos e meio lidando com a minha própria doença e de amigos que falam comigo a respeito das suas, já posso nomear alguns tipos, de acordo com meus sentimentos, ou o deles.

veja se conhece algum assim também: Primeiro lembro logo daquele que se mantém presente e participa da situação. Pode ser irmão, marido, filho, normalmente dentro do circulo familiar ou amigo mais próximo. Esse é o que acompanha o dia a dia do seu tratamento, fala diariamente com você, pergunta como vai, lhe abraça e demonstra sempre preocupação com seu tratamento. Procura acompanhar seus procedimentos médicos sempre que pode, e até atura mais suas crises de chatice, do que os demais. Depois, tem aqueles que ficam por perto e agem normalmente como se nada tivesse mudado. Esses podem ser da família ou nao. Parece que esquece que voce tem um problema de saúde. Se mantém perto como sempre esteve, mas na verdade não entende ou assimila que você tem problemas de saúde e que eventualmente precisa de algum apoio seja apenas da presença ou de alguma ajuda prática.

Tem ainda os que fingem que nada acontece, mas procuram apoiar de uma forma que não precisem participar de nada relacionado com a doença em si, mas buscam ajudar, fazer um papel, sem ressaltar o porque. Dão uma carona, compram um presente mais bacana, aparecem para um café, chamam para um cinema, entre outros. Estes também, de seu jeito, acariciam nossos corações.

Tem ainda aqueles que mantem distancia, nao aparecem normalmente, MAS basta um sinal seu, e eles estão ali, do seu lado, perguntando em que podem ajudar. Esses também nos fazem sentir amados.

Depois, vem os que machucam. São aqueles distantes, mas que você criou algum expectativa de que se reaproximassem mais, ligassem mais, aparecessem mais, quisessem lhe ver mais, mas continuam distantes como sempre foram. Entre os que machucam, tem também os que minimizam. Acham que quando você está deprimido ou cansado, ou quando sente uma dor ali ou aqui, ou nao acreditam, ou comparam a uma mera gripe, ou ainda dizem que também sentem a mesma coisa e que isso é besteira.


Finalmente, tem os que lhe surpreendem de forma linda. Aqueles que de repente passam a fazer parte de sua vida como nunca, e passam a te dar atenção maior, ligar, conversar, e deixam bem claro que nao é pela doença em si, mas porque eles notaram o quanto você importa para eles...

MAS de tudo isso, uma coisa temos todos que repetir como um mantra... o problema, ou a qualidade do que recebemos nao está neles, acima citados, mas em como nós aprendemos a entende-los, e aceitar que de fato, como nossas unhas e cabelos, a doença é nossa, e exigir que alguém a carregue por nós, é que nos faz errados.

beijos a todos os amigos que deram alguma dica ou historia para este post sair.

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